quarta-feira, 31 de março de 2010

Fernando Pessoa

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Forminhas de Amor!

Forminhas de amor! De fazer amor! Com amor!

O que fazer com os moldes que já vem prontos? Enxergar estes moldes como forminhas de amor, forminhas de fazer amor, com amor. Porque apesar dos moldes serem todos um pouco parecidos, o que se faz com eles pode ser muito diferente. O conteúdo das forminhas... A capacidade de fazer tantas coisas diversificadas com as forminhas.

Eu lembro da praia, quando eu era criança, que levávamos aquele monte de brinquedos de praia: bola, prancha, bóias, baldinhos e forminhas. E sentávamos em volta do guarda-sol e ficávamos horas brincando de fazer castelos e de enfeitar os castelos com conchinhas. E também usávamos as forminhas pra fazer uma porção de figuras diferentes. Tinha forminhas com figuras de peixes, de estrela-do-mar, de concha, de polvo, de sol, de lua em forma de meia-lua. E colocávamos as figuras em volta do castelo. Depois ficávamos admirando e inventando algumas histórias sobre o que se passava lá naquele castelo. Colocávamos pessoas dentro do castelo. E quando cansávamos de ficar ali, na areia, entrávamos no mar e tomávamos banho. Tirávamos a areia do corpo e brincávamos com a água. Às vezes, desmanchávamos as construções antes de irmos embora, outras vezes, quando tinha ficado muito bonito, deixávamos ali para que outras pessoas que chegassem depois pudessem ver. E nos dias em que o lugar onde nos instalávamos era muito perto do mar, uma onda mesmo se encarregava de vir e desmanchar nosso brinquedo. No outro dia nós voltávamos e fazíamos tudo outra vez.

Boas lembranças de como brincávamos com as forminhas, construindo castelos de areia. Boas lembranças das formas como nos amávamos enquanto brincávamos. Irmãos que são diferentes, mas que compartilham situações semelhantes. Irmãos que vivenciam histórias misturadas. Irmãos que experimentam juntos formas originais de amor.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Firmeza

Firmeza de propósitos, estipular uma meta e seguir esta meta até alcançá-la, o objetivo definido, a determinação, a concentração numa direção específica, a realização, a concretização de um sonho, de um ideal, firmeza para fazer acontecer. Também faz parte da idéia de firmeza a explicitação clara de intenções. E tudo pode levar ao sucesso se junto com essas características de firmeza estiverem aliados o carinho e o respeito, poder contar com apoio, incentivo, estímulo, suporte, estrutura e infra-estrutura. Tudo junto conspirando a favor. Tudo junto com a firmeza vira uma firmeza muito maior.

Mas se ao invés de poder contar com o carinho e o respeito, com o apoio e o incentivo, o estímulo, o suporte, a estrutura e a infra-estrutura, acontece de nos depararmos com dificuldades de toda ordem, obstáculos e milhões de razões que nos desviam do objetivo e nos tiram a firmeza, então, nesses casos, a firmeza, mais que habitualmente, precisa ser firme e estar firmemente grudada à paciência e à perseverança. Porque firmeza mesmo é sempre suportar e superar as adversidade. Mas existem adversidades e adversidades. Existem adversidades "normais", se é que se pode dizer assim, são adversidades "naturais", são os desafios que se apresentam na vida da maior parte das pessoas. Mas existem adversidades que estão muito pra lá da conta, adversidades que eu chamaria de "artificiais", criadas justamente para tirar a firmeza e desviar um sujeito de seus objetivos. Se o sujeito em questão for uma pessoa boa, generosa, se não tiver uma obsessão egoísta para atingir apenas seus objetivos, é muito provável que a firmeza para seguir sua meta seja abalada e o sujeito se veja desviando de rumo, muitas vezes, para atender os objetivos de outros. E é exatamente aqui que a gente vai poder conhecer um outro tipo de firmeza. Uma luta silenciosa e aparentemente quieta. Principalmente se os ideais forem mais elevados, se a pessoa não quer, sob hipótese alguma, perder a individualidade nem descaracterizar seus feitos.

Mas veja que firmeza por si só não diz tudo. Firmeza pode ser bom ou pode ser ruim, sempre depende de como e com que propósito está sendo aplicada. E se por um lado precisamos ser firmes, por outro lado também precisamos ser flexíveis. Em tudo é preciso haver harmonia.

sábado, 20 de março de 2010

Dizeres de Mario Quintana

Quem não compreende um olhar tampouco entenderá uma longa explicação.

Mario Quintana

Casa de Cultura Mario Quintana


sexta-feira, 19 de março de 2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dizeres de Mario Quintana

A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco. Porque a poesia é uma loucura lúcida.

Mario Quintana

terça-feira, 16 de março de 2010

Poesia

"Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinha"

Fernando Pessoa em O Guardador de Rebanhos

"Palavras fazem misérias
Inclusive músicas"

Manoel de Barros em Matéria de Poesia

É isso. A palavra na poesia ganha outras dimensões. E quando alguém é tocado pela palavra poética tem a possibilidade de sair de um lugar fechado, de uma idéia que usa uma palavra pra trancar pensamentos, sentimentos, fazer julgamentos. E quem não se sensibiliza com poesia é porque já está trancado, é porque já não deixa mais nenhuma brecha para outras possibilidades que uma palavra oferece.

E os poetas não podem fazer outra coisa a não ser seguir fazendo poesia. Fazendo poesia pra tentar libertar os prisioneiros das palavras que trancam. Fazendo poesia para eles próprios se libertarem em suas palavras.

E eu... Eu me jogo em algumas palavras, me atiro no colo e fico. Às vezes, quando leio uma poesia ou quando escuto uma música que trás poesia na letra, sinto como se só estivessem esperando por mim, como se estivessem me dizendo:

Vem, pode vir, vem que eu sei que é desse colo que tu precisas.

E eu vou. Me jogo nas palavras que outros escreveram, mas que dizem com a maior exatidão aquilo que sinto, aquilo que preciso ver, ler em forma de palavra, na poesia.

E quando Manoel de Barros diz que as palavras fazem misérias, imediatamente eu enxergo toda essa infinidade de "coisas" que as palavras são capazes de fazer: nomear, adjetivar, traduzir ações e formas, cheiros, gostos, fazer poesia, contar histórias, declarar amores, cobrar posturas, libertar escravos etc, etc, etc. E vai que um miserável leia e pense em um único tipo de miséria na palavra miséria. Não, as palavras fazem misérias sim, porque as palavras fazem de tudo, inclusive músicas. Porque existe um ritmo na palavra escrita em poesia, em verso, que torna a fala poética uma fala musical. E porque também existem as músicas que trazem letras poéticas, essas que eu adoro.

E de vez em quando eu me apaixono. E de vez em quando eu também sinto vontade de fazer poesias. Então eu posso tentar dizer uma poesia, posso fazer uma tentativa de escrever só umas poucas frases que me vem assim, com uma vontade. É assim:

Eu penso na pele dele
Tão branquinha
Quase tão branquinha quanto a minha

Pronto. Só isso. Nem vou falar nos olhos azuis.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Admiração

Eu estive observando você. Você é mesmo uma pessoa muito linda! O seu porte, a maneira como você se movimenta, seus olhos... Seus olhos quando você está olhando. Seus olhos quando estão fechados e você está cantando, quando você está sentindo. Seu sorriso, sua felicidade, seu modo de se relacionar com as pessoas. Tudo é muito lindo em você. Você é uma pessoa cheia de vida! Você é uma pessoa de bem com a vida.

E quando você parece ser toda essa beleza e toda essa saúde e toda essa vida, você vem com suas produções que falam de tristeza, de melancolia, de depressão, quase de morte.

Você representa muito bem. Você representa com emoção. Você se coloca inteiro no que você está representando. Você representa com o coração, com muita sensibilidade, com muita expressividade.

Acabei ficando confusa, sem saber mais onde é que você está, sem poder mais saber quem você verdadeiramente é. Achei que talvez você esteja dividido em mais de uma parte. Achei que talvez você exista aos pedaços. Achei que talvez você seja o conjunto de todas as suas partes e de todos os seus diferentes pedaços, o conjunto de todas as diferentes formas como você se manifesta, tudo reunido num conjunto universo "você".

Então entendi porque é que eu amo você. Entendi que é por causa dessa certa completude que emana de você, essa certa completude que me causa uma paz muito grande e me dá uma tranquilidade e uma sensação de bem estar porque você não demanda absolutamente nada. Você não pede nada, você não precisa de nada, você simplesmente se entrega, se dá, se mostra, e é nessa sua entrega que tudo acontece. É essa sua entrega que faz com que eu admire você e me sinta atraída por você, para observar você, apenas.

Você, à parte de tudo o mais que acontece. Você, à parte de todo um mundo sem sentido. Você acontecendo. Você fazendo a vida fazer sentido. Você me fazendo não poder fazer mais nada a não ser observar você. Você... Que é uma pessoa muito linda!

quarta-feira, 10 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

Rose

Rose estava exausta. Chegou em casa cansada e toda ensopada do banho de chuva. A aula tinha estado boa, mas o que ela mais queria era tirar os sapatos, as roupas molhadas, tomar um banho quente, se agasalhar e depois comer alguma coisa. Pensou em comer alguma coisa com ele, enquanto fossem conversando sobre como havia transcorrido o dia para cada um. Certamente ela contaria da aula, do aglomeramento na frente do supermercado por causa de um assalto, e da prima que ela tinha encontrado e quase não reconheceu, tamanho era o tempo que não se viam. Mas as luzes estavam todas apagadas, então ela logo se deu conta de que ele ainda não estava em casa. Seguiu seu roteiro: tirou os calçados, as roupas molhadas, tomou seu banho quente, se agasalhou e jantou. Pensou em telefonar, mas primeiro foi até o quarto preparar a cama para logo em seguida se deitar. Foi quando percebeu o bilhete dele em cima do seu travesseiro. O bilhete dizia:

"Rose
Desculpe não esperar para falar com você pessoalmente, mas é que eu não consegui. Por isso decidi me despedir por bilhete. Não sei o que dizer, não tenho uma razão para estar indo embora, mas estou. Não posso mais ficar com você. Por favor entenda. Espero que você seje muito feliz.
Amilcar"

Pois bem... Após a leitura do bilhete, Rose ficou um tempo parada, perplexa, sem saber ao certo se o sentimento que vinha chegando para lhe tomar conta era de tristeza ou de decepção. Rose não conseguia identificar se estava triste, decepcionada, braba ou com vontade de rir. Vagueou pela casa falando com os botões de sua camisola.

Puxa, a gente se gostava, e as coisas entre nós até que estavam indo bem, mas acho que ele se sentia um pouco mal comigo por causa da nossa diferença cultural. Coisa dele, porque eu sempre procurei respeitar nossas diferenças e sempre encontrei motivos para admirá-lo. Mas é a tal coisa, coisa e tal. Eu sempre às voltas com livros, ele com os carros, eu falando de aulas, textos, testes, ele com as peças, motores e essa incapacidade de falar olhando no olho sobre coisas que só se pode falar olhando no olho.

É, ela estava mesmo um pouco triste e decepcionada. E também estava um pouco braba. Mas quando releu o bilhete e deparou com aquele "seje" pela segunda vez, entendeu que ele estava fazendo a coisa certa e que, possivelmente, ela seria mais feliz a partir dali. Ela riu um pouco da atitude dele e da pureza do erro. Depois se deitou, pegou seu livro para ler e, após algumas páginas, adormeceu.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Cicatrizes

Eu pego as suas palavras, me agarro a algumas delas, e quando você diz que é tudo, ou quando você diz que é nada, quando você diz que é tudo ou nada, o que mais me atrai é a cicatriz. Então passei a enxergar uma pessoa cheia de cicatrizes. Passei a enxergar todas as cicatrizes de todas as pessoas cheias. Passei a me ater às cicatrizes.

Se eu digo que o que mais me atrai é a cicatriz, também posso dizer que isso não acontece por gosto. Isso é algo que ocorre porque é o que mais me chama a atenção. Talvez, justamente, pelo tanto que conheço de desatenção e desgosto.

E passei a me ater às cicatrizes. As cicatrizes visíveis. As cicatrizes invisíveis.

Têm umas cicatrizes que deixam a pessoa inutilizada. Cicatrizes que fazem com que a pessoa se torne uma nulidade. Mas, felizmente, nem todas as cicatrizes são assim.

A maneira como cada pessoa é capaz de lidar com as cicatrizes que carrega é o que faz toda a diferença.

E foi assim que eu entendi que uma ou outra cicatriz pode ser feia, uma ou outra cicatriz pode ser bonita, uma ou outra cicatriz pode ser imprescindível para que a pessoa possa seguir sua vida. Foi assim que eu entendi que não existe uma vida sequer que não traga consigo alguma cicatriz.

Se, por um lado, as cicatrizes visíveis podem ser graves, podem trazer um peso para a pessoa, porque ela precisa permanentemente estar dando a ver uma marca, por outro lado, as cicatrizes invisíveis são as mais difíceis de se carregar, são aquelas que poucos podem perceber e entender, são aquelas que mais dificultam viver.

As cicatrizes invisíveis... Às vezes desejos irrealizáveis. Uma dificuldade para falar. Não conseguir fazer o que se queria fazer. Ou mesmo falando e fazendo, não conseguir se fazer entender. O lugar onde ficam guardadas as mágoas. O lugar onde ficam guardadas as raivas. Como algo que tranca e impede o fluxo livre para a vida. E ter que viver com essas cicatrizes, e ter que ter força para reagir àqueles que sentem gosto por agredir e machucar e fazer cicatrizes nos outros. Todos cheios de cicatrizes.

O que faz toda a diferença é a maneira como cada pessoa é capaz de lidar com as cicatrizes que carrega. Uns se tornam cada vez piores, cada vez mais agressivos. Mas outros não são assim. Existem aqueles que procuram tratar carinhosamente as cicatrizes e que não querem ficar machucando e piorando a dor dos outros. Parece que só esses últimos é que conseguem perceber o que é carinho, o que é amor. Tudo depende do coração. E tudo depende de onde, quando e como cada um se machucou. Ainda, também, tudo depende de como cada um se tratou.