sábado, 3 de abril de 2010

Os sentidos da infância

No meu sonho todos os dias eram claros e azuis, todos os campos eram verdes e macios. Havia uma paz e uma harmonia impossível de descrever. Mistura de delícia com preguiça. Tudo estava bem e às vezes fazíamos piqueniques.

Se ouvia uma porção de sons peculiares ao lugar, sons oriundos das formas de vida do lugar. Mas por trás de tudo, um silêncio profundo. O som do mundo. O mundo original.

Os cheiros eram diversos: grama molhada, palheiro, esterco, zurrilho, jasmim, bergamota, alfazema etc. Eu adorava todos eles. Todos eles eram bons.

O gosto... De leite quente, biscoito, doce de leite, pitanga. O gosto de se saber que tudo que ali se tinha, dali mesmo provinha.

Muita coisa acontecendo sempre, mas nada alterando a essência de tudo. Como se fosse um jogo, com cada peça em seu exato lugar. Tudo tinha o direito de ser e tudo era como tinha que ser, quente e fresco ao mesmo tempo.

Tinha uma bola de fogo que era a origem de tudo. Tinha céu e ar, tinha terra e água. A noite era pontilhada de estrelas que junto com a lua faziam lindos desenhos enfeitando o cenário e comandando a cerimônia.

Tinha muitas plantas, horta, pomar e jardim. E muitos animais, pássaros, cavalos, cachorros, filhotinhos, o gado, as ovelhas, as aves do galinheiro, patinhos nadando no lago.

Tinha muitas pessoas: crianças e velhos, adultos e jovens, tudo funcionando bem, pronto, completo. Uma gloriosa celebração. Uma gostosa brincadeira.

Tudo se passou num momento, mas me pareceu a eternidade. Me fez sentir a alma da vida, me fez conhecer a perfeição e beleza, simplicidade e magnitude, a magia e os mistérios do universo.

E vi que meu sonho não era apenas um sonho, mas, também, as lembranças da infância.

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