Lilian não passaria mais nem um dia sem resolver definitivamente onde colocar sua mesa de trabalho. Ao menos para os próximos dias. Talvez para os próximos meses a partir desse dia.
Desceu e subiu as escadas por mais de uma vez explorando e procurando reconhecer cada ambiente da casa. Abriu todas as janelas e experimentou a luminosidade natural invadindo as diferentes peças.
Se instalou no quarto de banho e, enquanto se banhava, fez uma revista com os olhos constatando o quanto adorava aquelas folhinhas verdes da árvore do quintal, aquelas folhinhas verdes que ficavam ali espiando seu banho pela basculante.
Direto para o quarto de dormir, tratou de escolher uma roupa bem quentinha e confortável, vendo as cores e selecionando as texturas, se definindo pela lã e pelo algodão, pelo preto e pelo branco. Depois, enquanto arrumava sua cama, admitiu que não haveria mesmo chance para a mesa de trabalho no quarto de dormir, nem tanto por uma questão de chance, muito mais por uma questão de espaço.
Tomar café na cozinha era um hábito prático e antigo, um hábito que misturava leite com café e açucar, uma fatia de pão integral com mel e queijo branco, além de alguma fruta e às vezes uns goles de suco. Um hábito que geralmente começava na cozinha e podia continuar em lentas caminhadas pela casa, com uma caneca na mão, já procurando reunir o material para trabalhar no dia.
A mesa de trabalho, na sala, junto com o sofá onde Lilian estava agora terminando seu café, fazia uma espécie de solicitação, pedia um local que conjugasse as condições necessárias para favorecer o trabalho.
Lilian sabia que só dispunha daquela sala para jogar com possibilidades de colocação para a mesa.
Sua mesa de trabalho que já havia andado por um e outro canto da sala.
Aproximou-se da porta que se abria para a sacada e chegou a pensar em colocar a mesa na própria sacada, mas para isso precisaria recorrer a obras que forçosamente a levariam a fechar a sacada. Desistiu dessa idéia.
Observou que entre a porta da sacada e a parede lateral esquerda havia espaço suficiente para a mesa se fosse posta enviesada. E ainda seria possível acomodar a estante com todos os apetrechos de uso corrente no cantinho que ficaria livre, o ângulo do canto esquerdo da sala junto à parede da porta da sacada.
Foi até a cozinha deixar sua caneca e voltou para arregaçar as mangas e começar as mudanças na sala, recriando seu espaço de trabalho.
O dia estava recém começando e o sol forte e presente permitiria que ela experimentasse, durante toda a manhã e também por uma parte do turno da tarde, se aquela escolha de fato chegaria a congregar luz e sombra, espaço e clima para ela se posicionar e se movimentar como queria, como precisava.
Quando o ambiente já estava pronto, sentou-se e começou a desenhar. Desenhar e experimentar. Desenhar para experimentar o lugar, os desenhos, os experimentos de trabalho.
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