quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nós

Nós já estávamos na metade do caminho e decidimos parar um pouco para descansar. Colocamos nossos casacos sobre o pasto e fizemos com eles um confortável tapete para nos sentarmos. Acabamos por nos deitar ali mesmo e por uns bons minutos ficamos em silêncio, olhando para o céu. Depois brincamos com as múltiplas nuvens bem brancas e fofas que formavam desenhos infantis. Brincávamos de dizer o que cada um de nós enxergava em cada nuvem. Caras de bichos e formas geométricas que pareciam árvores e casas. O cheiro da terra tão perto de nós lembrava mais ainda a nossa infância e a impressão que dava é que éramos crianças novamente. Aquele ruído das cigarras cantando e o sol que vinha direto em nós nos deixava sonolentos e acho até que cochilamos de leve. Eu estava bêbada daquela situação, inebriada por contemplar tanta natureza à nossa volta e por não estar sofrendo pressão de espécie alguma. Nos demos as mãos e foi então que ele começou a me falar sobre os sentidos e os porquês, me contou muitas histórias sobre tudo o que vinha vivendo e me falou sobre as suas dores, sobre amores e desamores, me explicou como para ele era importante não perder o fio da meada e me pediu para sempre ser fiel aos meus sentimentos.

Meus sentimentos estavam cansados, estavam sentidos, meus sentimentos estavam querendo dar um tempo e eu queria deixar de sentir só por uns dias, queria ser fiel aos meus sentimentos, eu não estava mais aguentando tanto sentimento.

Eu não teria procurado por ele e não teria pedido para irmos até lá fora, onde eu me sentia melhor, mais em paz, se eu não estivesse tão esgotada de tanto tempo vivendo infernizada pela loucura das pessoas loucas que me rodeavam na cidade. Eu só fui até lá, eu só fui até ele porque ele era a única pessoa que me passava a confiança já tão perdida, ele é a única pessoa que me passa carinho e que me permite ficar à vontade sem me pressionar de maneira alguma. Ele tem essa habilidade comigo, sabe como me fazer ficar bem e sabe aceitar meus estados alterados quando eu não estou bem. Ele gosta de mim. E eu gosto dele. Nós temos uma cumplicidade e uma afinidade. Nós sabemos que não podemos ir além, mas nós também sabemos que para nos compreender e nos proporcionar esse bem estar talvez não exista mais ninguém.

Eu queria muito que, assim como ele, que me aceita e me recebe bem, assim como eu, que também consigo ser esse refúgio e essa depositária dos desabafos dele, eu queria muito que nós dois pudéssemos encontrar para nós pessoas que fossem capazes de nos aceitar e nos receber e que nós pudéssemos amar sem culpa e sem drama.

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