quinta-feira, 19 de maio de 2011

Para estar bem

Para estar bem, para alcançar o bem-estar, é preciso escolher a dedo, procurar como quem procura uma agulha num palheiro. Seja o alimento, seja o ambiente, a música, o livro, o passeio, a companhia, o pensamento. E em meio a tantas ofertas e influências, saber escolher é um aprendizado. Principalmente se aconteceram fatos graves durante nossa estruturação e nós simplesmente não tivemos escolha. Principalmente se acontece de vir à mente lembranças de muitas épocas da vida e nem sempre elas são boas. Queria poder selecionar as lembranças, atenuando as más recordações e dando ênfase ao que foi bom. Porque paralelamente aos traumas, sei que vivi bons momentos. E é nisso que preciso me segurar, no que foi bom, no que fui capaz de fazer de bom. Acreditar que ainda trago comigo minha humanidade, minha sensibilidade e a capacidade de me importar com o mundo e as pessoas. Acreditar que ainda sou capaz de fazer algo produtivo e significativo.

Mesmo nos períodos mais difíceis do meu adoecimento, nunca deixei de ser mãe e manter meu entrosamento com meu filho. Sempre procurei estar a par de como ele estava e sempre procurei ouvi-lo e apoiá-lo. Também nunca perdi a capacidade de lidar com as crianças - no caso meus sobrinhos - cuidando deles e brincando com eles quando tínhamos contato. Isso continuou assim e é assim até hoje.

Sensações desagradáveis, que vem de longe, como timidez, inibição, complexo de inferioridade, isolamento, sentimento de exclusão, reclusão, ostracismo, vergonha, insegurança, mal-estar geral, rondam a minha existência  com frequência. Uma noção de ter vivido, quando pequena, situações em que me sentia constrangida e humilhada, e me via sozinha, indefesa, impotente para reagir. E isso tudo tem pedaços de realidade, mas em boa parte é subjetivo, abstrato, exagerado e distorcido por mim. E é nessa luta que eu estou, para tentar colocar cada coisa no seu tempo, lugar e intensidade mais adequados, para tentar escapar dos assombros e me situar no momento presente. Com mais modéstia, com mais cuidado, com mais cautela, mas ligada no bem-estar, nas pequenas coisas que são prazerozas e permitem que a minha mente serene e que eu me sinta viva de verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário