quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Começo, meio e fim - Um surto

Um surto

Um surto estraga tudo. E vem de surpresa, não avisa que está chegando. Um surto faz com que o pensamento fique alterado e a mente é invadida por idéias irreais e assustadoras. Essas idéias fazem com que a gente tome atitudes inconsequentes. Nos meus surtos eu achava que existiam mensagens pra mim na tv, no rádio, nos jornais, nas revistas, no computador e nos ambientes. Achava que todos estavam contra mim, achava que tinha veneno na comida, achava que os vizinhos queriam me matar, achava que muitas pessoas faziam bruxaria e que muitos objetos meus estavam sob o efeito dessa bruxaria. Coloquei fora muita coisa. O pior é que depois, quando passa o surto, bate uma vergonha de ter pensado assim, bate um arrependimento de ter agido assim. Mas daí já é tarde, o feito, feito está. E durante o surto o tempo fica fora de tempo, fica um tempo próprio do surto, parece que tudo que existe e acontece é em função da gente, perde-se a noção do social, do real. Mas nem todos meus surtos foram com medo da morte. Tive, ao longo da minha vida, pequenos surtos, devaneios, fantasias de amor. E, assim, me apaixonei por muita gente que nunca namorei, e quando namorei foi com dificuldade e confusão. E a maior parte do tempo estive sozinha. Sempre com muita desconfiança, sempre com mania de perseguição. Um surto aniquila um dia, porque o dia passa a ser em função do surto, que é um erro, um equívoco. Vários surtos aniquilam uma vida, porque a vida se torna impossível, sem condições pra tudo que há de bom, de real, de coerente, de correto. Durante o surto, vem uma euforia, uma excitação, uma empolgação para agir, mas é um perigo, porque está tudo atravessado, não se tem certeza de nada, não se tem segurança, o que se faz é desprovido de juízo. É muito ruim. Mas um surto, assim como um dia, tem começo, meio e fim. Um surto termina, mesmo que às vezes dure vários dias e mesmo que, depois de ter terminado, possa voltar.

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