quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Começo, meio e fim - Uma depressão

Uma depressão

É a morte em vida. Ausência de libido. Inércia. Estagnação. Paralisação. É claro que existem diferentes intensidades de depressão, mas conheci essa depressão profunda, que abate, que deixa a gente incapaz para quase tudo. Dias e dias, que se tornam meses e meses, e até anos, apagada pra vida, na cama, levantando só pra o que era imprescindível e, mesmo assim, a muito custo. Na depressão o tempo desaparece, o tempo todo tudo é igual, sem graça. Uma falta de habilidade pra viver. Dificuldade até para conversar, para conviver. O supra-sumo do desânimo. Uma sensação de estar no fundo do poço, de não ter saída, de a vida ter acabado. Uma lentidão para se mexer e falar. Até para pensar. Uma escassez de prazer. Vontade de ter vontades, sem saber de onde tirar, sem saber onde encontrar. Na verdade, uma falta de vontade. Como se estivesse hibernando e a vida acontecendo fora da gente. Porque a vida da gente fica muito pequena, restrita. É como se tudo que a gente viveu, a vida inteira, desaparecesse, a gente se sente um nada. E há um constrangimento por estar nessa situação, querer sair e não ter como. Mas nessa situação, me agarrava a pequenos prazeres, no sabor de um alimento, na companhia de algumas pessoas, numa troca de e-mail, num breve texto que eu conseguisse escrever, nas consultas psiquiátricas, esperança de melhora, não pensava em cura, mas em melhora, e fui me segurando assim nessas coisas significativas, e fui conseguindo, aos poucos, colocar mais vida na minha vida. Assim fui deixando de sobreviver e passei a viver de novo. E percebi que assim como um surto, assim como um dia, a depressão também tem começo, meio e fim. No meu caso foi muito prolongado o período de depressão, mas ela passou. E espero que não volte.

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