quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Lya Luft

"Se eu contar isso todo mundo vai rir. Mas vejo o que eles não conseguem ver, portanto na verdade eu é que posso dar risada".

Uma frase do menino anão e sem nome, o narrador de "O Ponto Cego", de Lya Luft.

"Se eu descubro o lance perverso da jogada, quem sabe eu consigo sobreviver".

"As Parceiras", também de Lya Luft.



Admiro os romancistas bons. É muito difícil escrever um romance. É muito mais fácil escrever crônicas. Mas eu já li muitos romances e já li muitas crônicas e já li também muitos contos e biografias, e já aprendi, lendo bons escritores, que um romance é como um conto gigante. Ou o conto é um romance pequeninho. Mas é diferente o ritmo, a intensidade. O conto é conciso. O romance é mais extenso. Talvez dentro de um conto conciso exista a possibilidade de se desenvolver um romance. Mas não é só por uma questão do tamanho da história contada, é por causa do enredo todo. O tempo que passa, os personagens, as relações, tudo o que acontece, como as pessoas se transformam ao longo da história. É algo que pode ser maravilhoso, mas é difícil. Porque não adianta nada escrever uma história longa se ela for chata. Se a história for chata quem é que vai querer ler? E é por isso que é muito difícil. É difícil sustentar um enredo interessante, profundo, que prenda o leitor, se a história não for muito bem contada. A história tem que ser muito bem escrita pra que o leitor goste de ler e não pare pelo meio do caminho, como acontece com muitos romances chatos.

Os romances da Lya Luft, por exemplo, são histórias que depois que a gente começa a ler não consegue mais parar, porque a gente fica tão envolvida com a história que se torna impossível não querer saber o que vai acontecer. Ela consegue tornar os personagens tão vivos que eles passam a ser parte do que se está vivendo enquanto se está lendo. E também porque nas falas e nas reflexões dos personagens sempre existe muita coisa pra se aprender.

É esse tipo de romance que eu acho que é romance de verdade. Romances que trabalham a condição do ser humano no mundo, romances que falam sobre a alma humana e por isso tocam muito fundo a gente quando a gente os está lendo.

Pode ver que hoje em dia é enorme o número de pessoas que escreve e publica, é enorme também a variedade de recursos utilizados. Linguagens diferentes. E tem muita coisa boa, mas também tem muita coisa ruim. Não sei se é o caso de que tenha mesmo muita coisa ruim ou se sou eu que não gosto de qualquer coisa. Só sei que eu identifico muito bem o que é que eu gosto, o que é que eu acho que vale ser lido. Por outro lado, todo mundo é livre pra escrever o que quiser, o que puder, e os leitores também são livres para escolher o que ler.

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