sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Navegar é preciso. Viver não é preciso.

"Navegar é preciso. Viver não é preciso."

Fernando Pessoa



Neste nosso mundo louco, de valores invertidos, onde prevalece a indiferença com a injusta desigualdade, onde a superficialidade é estimulada, "nesta terra de gigantes, em que trocam vidas por diamantes", a vida, o bem maior, não tem seu valor reconhecido diante do "capitalismo selvagem". Nestes dias em que o ar está pesado e a consciência desta estupidez toda nos deixa abalados, fica claro que não se pode entregar os pontos. A maneira possível de prosseguir na luta é encontrando inspiração no que é belo, no que é puro, no que é vivo de verdade. Ainda que às vezes etéreo. Ainda que por vezes não vivido. Mas não podemos perder de vista os valores essenciais que representam o que é natural, humano, inocente.

"Navegar é preciso. Viver não é preciso."

Fontes de inspiração são espontâneas formas de existência. Pessoas, formas de ser, lugares, situações, bichinhos, plantas, etc. Fontes de inspiração podem despertar nos seres humanos seus sentimentos mais sublimes. Estimulam a imaginação, geram momentos de criação, momentos em que homens aproximam-se do que é sagrado. Vivendo a vida vivida, cada qual cumprindo seus papéis, nos deparamos com todo tipo de limite que a realidade impõe, mas quando somos apanhados por um momento de inspiração o divino se revela e transcendemos estes limites. Nos lançamos num universo infinitamente mais rico e complexo. O sonho, a imaginação, a leveza de que se constituem o pensamento e o sentimento inspirados, tudo isto é sagrado, e só é possível graças à existência de fontes de inspiração e, simultaneamente, de criaturas sensíveis para percebê-las, vivenciá-las na escuta, na observação silenciosa, saboreando possibilidades. Assim surgem músicas, letras, poemas e muitas maneiras de expressão de amor, de pureza, de fantasias as mais diversas. Em algumas ocasiões somos a fonte de inspiração, em outras somos o alvo e nos vemos sensibilizados, viajando por paisagens raras, despertos para instâncias especiais.

"Navegar é preciso. Viver não é preciso."

Eu amo navegar e amo viver. Navegar e viver para mim andam juntos, quando escuto, quando vejo, quando sinto, quando penso, quando me relaciono, quando converso, quando leio, quando escrevo, quando ouço música, quando danço, quando brinco, quando viajo, quando faço, tudo que faz parte da vida, com amor.

Obs.: Fernando Pessoa, quando usou a palavra "preciso" neste poema, não estava se referindo a preciso de necessário, e sim a preciso de precisão. Navegar é preciso. Viver não é preciso.

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