sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Depoimento

Se tivesse que me definir, sinteticamente, diría: Sou a Têri, mãe do Filipe. Não tenho dúvida de que a maternidade é o que há de mais importante na minha vida. Sempre vivi intensamente meu papel de mãe. E mesmo nos piores períodos do meu adoecimento, nunca deixei de ser mãe. Mas também sou filha, irmã, tia, madrinha, amiga, algumas vezes fui namorada, uma vez fui casada, enfim.

Sempre fui um pouco maluquinha. Na juventude, meus amigos diziam que eu era "desligada". Era um termo que se usava, na época, para designar alguém que "levava uma vida sossegada, gostava de sombra e água fresca". Mas, mesmo sendo assim, paralelamente era compenetrada e consegui construir uma vida, amando, me relacionando, estudando, trabalhando, viajando e aproveitando a vida atraída pela natureza, pelas artes, pelas pessoas. Movida por ideais humanitários, escolhi trabalhar com saúde e educação.

As coisas começaram a se complicar mais, em 2001. Em setembro, fui doar sangue para a Vera Karam, que estava hospitalizada, com cancer, na Santa Casa. Sempre admirei a Vera Karam, tenho tudo que ela escreveu e publicou. Resulta que, meses depois, a Vera veio a falecer, e minha doação só serviu para eu descobrir que tinha hepatite C. A partir daí procurei um gastro: Guilherme Becker Sander (estou com ele até hoje), parei de beber bebida alcoólica e fiquei "controlando" minha hepatite através de exames periódicos, com acompanhamento médico. Esse diagnóstico mudou minha vida.

Em outubro de 2004, iniciei, por indicação do gastro, o tratamento que a Secretaria da Saúde oferece, com doses diárias de Ribavirina e, semanais, de Interferon, na tentativa de negativar o vírus. O tratamento durou 1 ano e eu fiz completo. Porém, em março de 2005, como efeito colateral do Interferon, tive um surto psicótico. Fiquei apavorada, assustada, com manias de perseguição, achando que tudo e todos queriam a minha morte. Saí de casa e fui para casa da minha mãe. Precisava ser cuidada. Precisava ficar perto das pessoas mais confiáveis e que mais tinham condições de me cuidar. O pior foi a separação brusca do meu filho, que ficou em casa sozinho, se virando. Felizmente já era adulto, tinha 21 anos.

Busquei tratamento psiquiátrico, mas nesse momento e até meados de 2006 o tratamento foi inútil. Tomava Aldol para controlar a psicose e Pamelor como anti-depressivo. Esses remédios não me faziam bem. Eu ficava abobada, inerte, não fazia nada. Passava a maior parte do tempo deitada.

Em maio de 2006, mudei de psiquiatra. Fui para a Fundação Universitária Mário Martins, com o dr. Mateus Frizzo Messinger, que mudou a medicação e oferecia uma psicoterapia mais eficaz. Estou com ele até hoje. Tomo Carbolitium para moderar o humor e Risperidona para controlar a psicose. Me dou bem com esses remédios. Melhorei, mas foi aos poucos, demorou. Voltei a escrever trechos breves e passei a usar a internet para troca de alguns e-mails. Mas me sentia desestruturada, saía muito pouco e sempre acompanhada da mãe, de algum irmão ou do meu filho. Segui na casa da mãe 2006, 2007 e 2008. Nesse ritmo lento, nessa rotina pequena, alternando momentos melhores com longos períodos de depressão e uns surtos de vez em quando. Só digo uma coisa: ninguém passa anos em brancas nuvens por querer.

Em agosto de 2008, surtei brabo. Meu psiquiatra me encaminhou para internação na Clínica São José. Me apavorei, nunca tinha sido internada antes. Fiquei 2 meses lá e, no fim das contas, foi muito bom. Me fez muito bem. Era bem tratada, cuidada, e o convívio com muitas pessoas legais, internadas, cada uma por uma razão diferente, me fez ampliar e clarear minha noção sobre distúrbio psíquico. Melhorei e quando saí da clínica voltei pra minha casa. Estou aqui desde então. Sozinha, porque nesse meio tempo o Filipe casou. Mas fazemos contato diariamente e nos vemos com regularidade.

Em 2009, iniciei o Acompanhamento Terapêutico, com o psicólogo Marcelo Lubisco Leães, por indicação do psiquiatra. Altos progressos. A companhia, as conversas, as visitas e arrumações em casa, os passeios pela cidade, tudo isso me trouxe de volta um ritmo de vida e uma identidade que havia sido perdida. Não digo perdida, mas estava muito embaçada.

Com todos estes recursos: apoio da família, terapeutas, medicação, uma internação, uso da internet (além dos e-mails, quando saí da clínica entrei pro orkut por causa de um colega de clínica, mais adiante, por convite de amigos, entrei pro facebook, e mais recentemente, por indicação do psicólogo, criei este blog), tenho melhorado, mas não sou mais a mesma, não tenho mais o vigor de outrora, e minha mente precisa de todo esse aparato para que eu me sinta segura e me atreva a viver socialmente.

Quando terminei o tratamento com interferon o vírus da hepatite C negativou, mas seis meses depois, quando repetimos o exame, ele tinha voltado. Assim que, sigo sendo portadora de hepatite C e o tratamento desencadeou em mim Transtorno Esquizoafetivo e hipotireoidismo, que trato com Puran T4. São as minhas doenças e tê-las faz muita diferença.

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